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24 Maio 2009, 13:05 Antonio Toca Não é o
caso do exemplo que vamos tratar agora, mas a ideia desta série de entradas é destacar um facto particular pertencente a uma sequência de filmes, que pode não lhe agradar em termos gerais, mas que num instante o faz ver a luz pelo que é dito ou visto. Em outras palavras, nem todos gostam dos mesmos filmes, e na verdade alguns dos filmes aqui discutidos não são os que você colocaria no altar, mas se eles são lembrados é por causa de algo específico que chama nossa atenção, momentos de cinema em essência, pertencentes à memória seletiva de cada um. Assim, por exemplo, há um instante em ‘O Retorno do Rei’ que o marca, pelo que é dito ou como é dito, e que para ele, apesar de todo o filme o aborrecer, significa um momento mágico, digno de menção. Quando falei de “Atlantic City” (gostaria de saber quantos desses “formadores de opinião” que se dignam atacar meu parceiro por dizer a verdade sobre o que poucas pessoas corajosas pensam sobre a terceira parte de “O Senhor dos Anéis”, viram ou conhecem essa maravilha com Burt Lancaster), Fi-lo recordando uma única sequência, quando todo o trabalho é enorme, e não pelo que foi visto, pelo contrário, pelo que não foi visto, porque por um momento naquele filme passamos de espectadores a “voyeurs”, a sentir o que poderia ser ver uma mulher a limpar-se nua com um limão. Ambos chegamos à mesma conclusão por dois caminhos diferentes, mágicos em ambos os casos.
Ao entrar “O Padrinho II“, que é o tema desta entrada, a minha memória selectiva só pensa no fim. Em toda a última seqüência, sem dúvida, aqueles mais de sete minutos em que vemos toda a família andando por aí, para acabar na imagem de Michael Corleone sozinho, destino trágico do qual ele não conseguiu escapar. A história da América não é mais do que uma tragédia shakespeariana, a solidão do poder. Especialmente este último. A minha memória está fixa logo após o som de um disparo, Michael Corleone sentado numa poltrona e a câmara a fazer zoom no seu rosto.
Algo acabou de acontecer que seu pai sempre lutou para que isso não acontecesse, para ter a família unida, e ele quebrou essa regra, por não saber como protegê-la, por não poder amar. Esse final muito difícil, onde ele deu a ordem de matar seu irmão Fredo, é o que Coppola se agarra para explicar a terceira parcela, pela dor que tem acompanhado Michael desde que ele decidiu não perdoar uma traição. O ressentimento e a culpa que esse olhar perdido vai acompanhar Michael Corleone até à sua morte.
Diz-se que, numa ocasião, Al Pacino estava sentado na poltrona de um cinema, assistindo ‘A Garota do Adeus’, quando ouviu a seguinte frase da boca da atriz Marsha Mason:
Depois o Al Pacino levantou-se do seu lugar e começou a gritar:
Aqui está um oximoro, para o bem e para o mal, Al Pacino será lembrado por trazer Michael Corleone à vida. A história é assim, ele era um estranho até Coppola apostar nele, acima dos produtores e de qualquer outro que estivesse contra ele. Por quê? Coppola tinha em sua cabeça que, apesar de outros iriam obter a glória, o verdadeiro protagonista era o filho mais novo da família, e que seu drama era interior, que tinha que ir da alegria da inocência daqueles que estão à margem dos negócios, à frieza na qual o mesmo personagem cai anos depois
.
Tudo o que lhe foi dado pelo Al Pacino, que toma conta do Michael Corleone. Coppola, como estávamos dizendo, quer contar a história de uma família especial, verdade, mas ao mesmo tempo, a tragédia do filho mais novo de Dom Vito, aquele em quem ele tinha todas as esperanças, alguém honesto diante de tanto mal. Aquele silêncio, aquele olhar perdido, fala da capacidade de um actor de salvar gestos.
Não precisamos de palavras, intuímos, é isso que somos forçados a fazer, o que se passa na cabeça do Michael. Sabemos o que aconteceu, apesar de Coppola nos impedir de vê-lo, e o diretor nos dá pistas. Fredo sabe que desde o beijo de seu irmão, ele é um morto vivo, mas que sem sua proteção ele também não poderia sobreviver. No entanto, o fim, apesar da previsibilidade, abala-nos bastante. A realidade da máfia.
Sequência final ‘O Padrinho, parte II
Para Michael, não há perdão para a traição, mesmo que ele tome o nome Corleone. Não há meio-termo, e os erros não são ignorados. Tudo compensa, mais ainda, se for contra o que ele está a correr. O poder isola-o de tudo, até da sua mulher e filhos. O olhar perdido de Michael é a memória de uma mesa cheia de pessoas e memórias, agora vazia. Esse é o seu fracasso, do qual ele também não obtém o seu próprio perdão.
O final, como nas três prestações, é uma ópera de histórias entremeadas que estão a fechar. Feridas externas e internas, que convergem no reflexo do Michael. Na sua solidão e no seu olhar para o nada. Ele acabou de se tornar tudo o que o pai dele deserdou. Ele matou, para proteger e dar um futuro à sua família. Ao contrário de seu pai, Michael por não dar sinais de fraqueza, mesmo que sacrifique a vida daquele que é seu sangue. Parte disso deve estar em sua mente enquanto a câmera faz zoom na última imagem que vemos do Padrinho II. Sem saber o que ele está a pensar, podemos senti-lo, isso é algo que Coppola nos dá. A tirar as suas conclusões, diz ele. O Michael Corleone agora é nosso. O que vai ele pensar? Nós é que temos de completar o trabalho. Ou assim foi, até que anos depois o próprio diretor decidiu nos oferecer o que estava passando pela cabeça de Michael quando ele bateu no fundo do poço. Solidão e reflexão em um único plano. Momento mágico. Cinema pela memória, parte do puzzle da nossa memória selectiva como fã da sétima arte.
Trilha Sonora de “O Padrinho, Parte II
Foto | Cartaz 10
Bilhetes para ‘The Godfather II’ no F.F. Coppola Studio
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